Militares dos EUA temem consequências legais por participação em ataques a barcos suspeitos de narcotráfico

Escrito em 12/12/2025

Por Ryan Lucas – NPR

Membros das Forças Armadas dos Estados Unidos, incluindo oficiais de estado-maior e ao menos um piloto de drones, têm procurado ajuda de organizações independentes por receio de enfrentar responsabilização legal devido à participação nos ataques ordenados pela administração Trump contra barcos suspeitos de transportar drogas.

Nos últimos três meses, os EUA destruíram mais de 20 embarcações no Caribe e no Pacífico Leste, ações que o governo afirma terem como alvo o tráfico ilegal de narcóticos. Mais de 80 pessoas morreram nessas operações. A Casa Branca sustenta que os ataques são legais, conduzidos sob as leis de guerra e autorizados pelo presidente Trump com base em seus poderes do Artigo II como comandante-em-chefe, além de alegar que as ações foram realizadas em legítima defesa.

Diversos especialistas jurídicos, entre eles ex-advogados militares, contestam essa interpretação. Para eles, atacar supostos traficantes civis é uma prática ilegal que pode ser classificada como homicídio.

A divergência profunda entre essas visões tem deixado parte do corpo militar insegura e temerosa quanto às possíveis consequências legais por participar da campanha.

Segundo Steve Woolford, conselheiro do Quaker House na Carolina do Norte e integrante da GI Rights Hotline, essa insegurança é evidente entre os militares que têm buscado orientação. Sua organização, que oferece apoio confidencial a membros das Forças Armadas, recebeu ligações desde que o governo iniciou os ataques às embarcações em setembro. Ele afirma que dois militares já procuraram o Quaker House expressando forte preocupação com seu envolvimento.

Woolford conta que ambos manifestaram dúvidas sobre a legalidade das missões e sobre o risco de serem punidos futuramente por cumprirem ordens que poderiam ser consideradas ilegais. Eles também relataram dilemas morais, por aceitarem atuar na defesa do país, mas não desejarem participar de ações que possam violar as leis de guerra. Em todos os casos, os militares foram encaminhados a advogados que pudesse auxiliá-los com orientações específicas.

A demanda não é isolada. O Orders Project, grupo apartidário que oferece suporte a militares que têm dúvidas sobre ordens legais e ilegais, também registrou aumento significativo no número de contatos nos últimos meses. Frank Rosenblatt, ex-advogado militar e integrante da organização, afirma que parte das ligações vem de oficiais responsáveis por áreas de inteligência, questões jurídicas e planejamento de alvos.

Rosenblatt explica que muitos desses profissionais relatam pressão de superiores após registrarem discordância técnica em processos internos. Ele descreve situações em que militares questionam quais opções têm para agir corretamente sem comprometer suas carreiras. O Orders Project não fornece pareceres definitivos sobre a legalidade das ordens, mas orienta os militares sobre como documentar possíveis pressões e de que forma buscar esclarecimentos formais.

As entidades relatam que a maioria dos contatos não vem de quem executa diretamente os ataques, mas de quem participa do planejamento operacional. Embora o número de ligações ainda não seja alto, o simples fato de militares procurarem ajuda demonstra o nível de insegurança e confusão dentro das Forças Armadas.

Woolford afirma que muitos temem que eventuais responsabilizações no futuro não sigam critérios legais, mas políticos. Ele destaca que essa incerteza torna o cenário ainda mais difícil para militares que buscam agir dentro de regras claras, mas não sabem como seus atos serão interpretados no longo prazo.

Foto: Evan Vucci/AP

Fonte: NPR