Egito e Irã protestaram formalmente contra a decisão da FIFA de realizar em Seattle, que sediará oito jogos da Copa do Mundo de 2026, uma série de eventos coincidentes com o calendário do Mês do Orgulho LGBTQ+. As reações dos dois países vieram depois que a cidade promoveu um concurso de arte relacionado ao torneio, cujo trabalho vencedor mostrava um sol estampado com a bandeira arco-íris se pondo atrás do Monte Rainier, além de um caranguejo atuando como goleiro enquanto segura um copo de café, em referência ao clima e à cultura local.
As críticas se intensificaram porque o jogo entre Egito e Irã, marcado para 21 de junho em Seattle, ocorrerá justamente no fim de semana em que a cidade celebra o PrideFest, um dos maiores eventos LGBTQ+ da região. Autoridades egípcias afirmaram, em carta enviada à FIFA, que “não aceitam que suas partidas oficiais sejam vinculadas a atividades de qualquer organização que apoie a homossexualidade”. O Irã também enviou uma mensagem formal pedindo que o assunto fosse tratado durante o encontro do Conselho da FIFA, órgão com 37 membros do qual participa o dirigente egípcio Hany Abo Rida, e criticando o que classificou como uma tentativa de atrelar a presença de sua seleção ao Pride local.
Essas reações reacenderam debates sobre a repressão às pessoas LGBTQ+ nos dois países. No Egito, indivíduos são frequentemente acusados de “libertinagem” ou “violação da moral pública”. No Irã, há registros de execuções desde a Revolução Islâmica de 1979, e o país ganhou notoriedade internacional em 2007, quando o então presidente Mahmoud Ahmadinejad afirmou, durante um evento em Nova York, que “não existem homossexuais no Irã”.
Mesmo diante das críticas, o comitê organizador local afirmou que manterá a programação planejada com a prefeitura e com a comunidade. A porta-voz Hana Tadesse disse que a região é reconhecida por defender a diversidade e a inclusão. A futura prefeita, Kate Wilson, comemorou que junho será um mês especial para Seattle, com o Pride, o Juneteenth e os eventos da Copa acontecendo simultaneamente.
A polêmica também tocou na autonomia da FIFA. Embora a entidade controle atividades oficiais nos estádios e nas fan zones, ela não tem autoridade formal para intervir em eventos comunitários independentes, como o PrideFest. Isso reforça o desafio da organização em lidar com conflitos diplomáticos de países que condenam abertamente a homossexualidade, além do risco de ser acusada de adotar “dois pesos e duas medidas”, já que, durante a Copa do Mundo de 2022, no Catar, seleções europeias foram impedidas de usar a braçadeira “One Love” em apoio à comunidade LGBTQ+ após a FIFA vetar a iniciativa. O Catar também jogará em Seattle em 24 de junho.
A situação ainda se agravou com dificuldades diplomáticas envolvendo o Irã. A Associated Press revelou que cinco dos nove integrantes da delegação iraniana não receberam visto para participar do sorteio da Copa realizado nos Estados Unidos, consequência das sanções impostas pelo governo americano que muitas vezes restringem viagens internacionais. Isso levantou a possibilidade de um boicote iraniano ao sorteio, embora a delegação tenha participado parcialmente. A AP também questionou a FIFA sobre a possibilidade de transferir a partida entre Bélgica e Nova Zelândia, marcada para o PrideFest, para Seattle, mas a organização não respondeu.
