Trump fala sobre inflação, mas discurso em Pensilvânia deriva para críticas a imigrantes de países “imundos”

Escrito em 10/12/2025

Por JOSH BOAK e MARC LEVYA – Associated Press

MOUNT POCONO, Pa. (AP) — Durante uma visita oficial à Pensilvânia nesta terça-feira, o presidente Donald Trump tentou reforçar sua mensagem de que está focado em combater a inflação, tema que tem prejudicado sua popularidade. Mas, ao longo do discurso, o assunto acabou sendo ofuscado por ataques a imigrantes e críticas a países que ele classificou como “imundos”.

Falando para apoiadores em um centro de convenções no Mount Airy Casino Resort, Trump afirmou que a inflação “não é mais um problema” e acusou os democratas de usarem o tema da “acessibilidade” como um “golpe” para prejudicar sua imagem. No entanto, rapidamente desviou para reclamações sobre imigração semelhantes às que surgiram em 2018, comentários que ele havia negado na época. No palco, perguntou por que os EUA recebem pessoas de “s—-hole countries” e sugeriu que deveria haver mais imigrantes de países como Noruega e Suécia. Também afirmou que lugares como Afeganistão, Haiti e Somália seriam “sujos, imundos, perigosos e repletos de crime”.

Apesar de ser um evento oficial da Casa Branca, o encontro teve clima de comício, seguindo o padrão das aparições públicas que sua equipe promete intensificar antes das eleições legislativas do próximo ano. Realizado em um município de cerca de 3.000 habitantes, o evento ocorreu em uma região eleitoral decisiva tanto para a Câmara quanto para a base que garantiu o retorno de Trump à Casa Branca após uma pausa de quatro anos.

Para tentar convencer o público de que está reduzindo os custos para os americanos, Trump exibiu gráficos comparando aumentos de preços sob Joe Biden com sua própria gestão. Ainda assim, índices inflacionários continuam subindo desde que o presidente implementou novas tarifas em abril, aumentando a preocupação com gastos essenciais como alimentos, energia e moradia. Enquanto Trump discursava, os republicanos enfrentaram mais um revés: a eleição de Eileen Higgins como prefeita de Miami, a primeira democrata a ocupar o cargo em quase três décadas, derrotando o candidato republicano apoiado pelo presidente.

Em Monroe County, área turística conhecida pelos Poconos, parte do eleitorado continua fiel ao presidente, mas reconhece que a inflação segue pressionando o orçamento familiar. Lou Heddy, aposentado de 72 anos que votou em Trump no ano passado, afirmou que a conta do supermercado aumentou de US$ 175 para US$ 200 em poucas semanas e que duvida que os preços voltem a cair. Já Suzanne Vena, de 66 anos e eleitora democrata, atribui os aumentos às tarifas impostas por Trump e diz enfrentar dificuldades com o custo de alimentos, aluguel e eletricidade. Outro morador, Nick Riley, de 38 anos, relatou ter cortado gastos com lazer e desistido de procurar um carro usado devido aos altos preços. Ele votou em Trump em 2020, mas se absteve na eleição de 2024 e afirmou que fará o mesmo no próximo ano. “Estamos todos quebrados, não importa de que lado você esteja”, declarou.

A chefe de gabinete da Casa Branca, Susie Wiles, afirmou no programa “The Mom View” que Trump fará mais viagens pelo país no próximo ano para mobilizar eleitores que costumam não votar em eleições legislativas. Segundo ela, a estratégia será oposta à de administrações anteriores, colocando o presidente diretamente no centro da campanha. Paralelamente, Trump tenta sustentar o discurso de que a economia vive um momento de força histórica, apesar do descontentamento público com os preços elevados. Em entrevista ao Politico, classificou a economia como “A-plus-plus-plus-plus-plus”.

O presidente também voltou a defender suas tarifas, alegando que setores como o de aço estão sendo beneficiados por suas medidas. Em meio às explicações econômicas, aconselhou os americanos a comprarem menos produtos importados, dizendo que não há necessidade de “37 bonecas” para uma criança. “Duas ou três já são suficientes”, afirmou.

Foto: Alex Brandon/Associated

Fonte: Boston Globe