Trump anuncia novas tarifas de importação sobre medicamentos, caminhões e móveis

Escrito em 26/09/2025

Por David Shepardson – Reuters

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quinta-feira uma série de novas tarifas de importação, incluindo uma taxa de 100% sobre medicamentos de marca, tarifas de 25% sobre caminhões pesados, 50% sobre gabinetes de cozinha e banheiro importados e 30% sobre móveis estofados. Segundo Trump, a decisão visa proteger a indústria nacional e a segurança dos EUA, mas reacende preocupações sobre os impactos da guerra comercial no cenário global, após um período de relativa estabilidade nas relações comerciais.

As novas tarifas chegam em um momento em que empresas globais já enfrentam dificuldades com cadeias de suprimentos desorganizadas, custos crescentes e incerteza dos consumidores, todos agravados pela prolongada guerra comercial iniciada pelo governo Trump. O Federal Reserve já apontou que essas medidas têm contribuído para o aumento dos preços ao consumidor nos EUA. O anúncio faz parte de uma mudança estratégica do governo Trump, que busca fundamentar suas ações comerciais em bases legais mais sólidas, diante de questionamentos sobre a legalidade das tarifas globais atualmente em análise na Suprema Corte americana. As novas medidas surgem após um período de relativa calma, quando Trump havia fechado acordos comerciais com parceiros importantes como Japão, União Europeia e Reino Unido, estabelecendo limites para tarifas em produtos específicos, como os farmacêuticos. No entanto, a nova rodada de tarifas pode reacender a incerteza que marcou o início do ano, quando anúncios frequentes de tarifas afetavam o planejamento de empresas e investidores. O setor farmacêutico, o de móveis e o de veículos comerciais estão entre os mais atingidos.

O anúncio provocou reações imediatas nos mercados internacionais. As bolsas asiáticas caíram, puxadas por empresas farmacêuticas, enquanto as ações europeias se recuperaram após perdas iniciais, diante da incerteza sobre o alcance das novas tarifas. Nos Estados Unidos, os futuros das bolsas indicaram que investidores, por ora, tendem a minimizar o impacto das medidas, aguardando sinais mais claros de pressão econômica decorrente da guerra comercial. Segundo analistas do BMO Economics, até que a economia americana mostre sinais mais evidentes de pressão devido à guerra comercial, os investidores parecem dispostos a manter a calma e seguir em frente.

No caso dos medicamentos, a tarifa de 100% será aplicada apenas a fabricantes que ainda não iniciaram operações em solo americano. Diversas empresas do setor já anunciaram investimentos bilionários nos EUA, como a suíça Roche, que iniciou recentemente a construção de uma nova unidade no país. A Novartis, outra gigante do setor, também prometeu grandes investimentos, mas não comentou oficialmente o anúncio. Trump vinha ameaçando há tempos impor tarifas mais altas sobre medicamentos, especialmente mirando empresas com fábricas fora dos EUA. A medida afeta diretamente países como a Irlanda, importante exportador de produtos farmacêuticos para o mercado americano, onde fábricas majoritariamente de propriedade americana empregam cerca de 2% da força de trabalho local. Antecipando as tarifas, a Irlanda acelerou suas exportações para os EUA: entre janeiro e julho de 2025, as exportações de produtos químicos, medicinais e farmacêuticos saltaram 536% em relação ao ano anterior, atingindo 23,9 bilhões de euros (US$ 27,9 bilhões), segundo o Escritório Central de Estatísticas da Irlanda. Segundo a associação americana do setor farmacêutico, mais da metade dos US$ 85,6 bilhões em ingredientes para medicamentos usados nos EUA são fabricados domesticamente, sendo o restante proveniente da Europa e de outros aliados americanos.

No setor de móveis, Trump determinou uma tarifa de 50% sobre gabinetes de cozinha e banheiro importados, além de 30% sobre móveis estofados. Dados do setor indicam que cerca de 60% dos móveis importados pelos EUA em 2024 vieram do Vietnã e da China. Representantes da indústria vietnamita classificaram a decisão como injusta e temem que as tarifas provoquem uma busca por novos mercados por parte de exportadores asiáticos. Nguyen Thi Thu Hoai, da Associação de Madeira e Artesanato da província de Dong Nai, um dos maiores polos moveleiros do Vietnã, afirmou que muitos membros do setor ficaram chocados com a notícia e consideram a decisão injusta. O emprego na indústria moveleira e de produtos de madeira nos EUA caiu pela metade desde 2000, chegando a cerca de 340 mil trabalhadores atualmente, segundo estatísticas do governo americano.

Para os caminhões pesados, a nova tarifa de 25% deve beneficiar fabricantes americanos como Peterbilt, Kenworth (ambas do grupo Paccar) e Freightliner. No entanto, especialistas alertam que a medida pode pressionar os custos de transporte no país, justamente quando Trump promete reduzir a inflação, especialmente em itens de consumo como alimentos. A Câmara de Comércio dos EUA já havia alertado que os principais países exportadores de caminhões para os EUA — México, Canadá, Japão, Alemanha e Finlândia — não representam ameaça à segurança nacional americana. As ações de grandes fabricantes europeus de caminhões, como Daimler Truck e Traton, caíram após o anúncio das tarifas.

O anúncio de Trump não deixou claro se as novas tarifas se somarão às já existentes. Recentemente, acordos preliminares com a União Europeia, Japão e Reino Unido estabeleceram tetos para tarifas em produtos específicos, como os farmacêuticos — no caso da UE, um limite de 15%. A Comissão Europeia afirmou que o acordo é claro ao estabelecer esse teto. O negociador comercial do Japão, Ryosei Akazawa, declarou que as tarifas japonesas não excederão as aplicadas a outros parceiros, incluindo a UE.

Todas as novas tarifas entram em vigor a partir de 1º de outubro e se somam a outras medidas já adotadas pelo governo Trump em setores como aço e produtos químicos. Enquanto investidores reagem com cautela, autoridades e representantes da indústria avaliam os possíveis efeitos sobre preços, empregos e cadeias de suprimentos. O governo americano ainda não publicou ordem executiva confirmando todos os detalhes dos acordos recentes. A escalada tarifária de Trump continua lançando dúvidas sobre o crescimento global e a estabilidade das relações comerciais internacionais, em um cenário de volatilidade e incerteza para empresas, trabalhadores e consumidores em todo o mundo.

(Cotação: US$ 1 = 0,8562 euro)

Foto: REUTERS/Carlos Barria

Fonte: Reuters